terça-feira, 24 de maio de 2011

Saúde em Lages: Onde está o problema?


Em uma ousada reportagem,  a RBS TV de Lages foi mais a fundo do que de praxe no problema do atendimento hospitalar na cidade. O resultado não poderia ter sido outro: problemas em cima de problemas. Mas, o que se pode esperar de um sistema que, ao mesmo tempo que é modelo internacional, depende da rede privada e filantrópica para sua sobrevivência, e que na hora de pagar aos prestadores de serviço usa uma tabela amarelada e mofada de 1994, e que nesse período de 17 anos não teve NENHUM reajuste? Nada diferente, não é?
O problema da saúde pública no Brasil é o mesmo da s moradias, da educação, da segurança pública, das estradas e da garantia da qualidade de vida dos cidadão brasileiros.
Pq a comparação?
Ora... se pagamos impostos em caga elevadíssima, o estado deveria nos suprir pelo menos daquilo que é constitucional e de direito do povo: moradia, saúde, educação e segurança. Mas não! O brasileiro paga os impostos e mais a escola dos filhos, os pedágios nas estradas, o plano de saúde, a segurança privada, dentre outros. E pq isso?

Simples... a qualidade dos servços prestados pelo estado é avaliado pela população de média e alta renda como "fracos" em relação ao que a rede privada oferece! Falo das classes B e A pq C e D nem falam nada, pq raramente tem filhos em escolas privadas, planos de saúde, moram em casa própria e sequer tem carro. A avaliação é das classes citadas mesmo. 
Lembremos que pela primeira vez em décadas não aparece NENHUMA universidade brasileira entre as 100 melhores do mundo! Isso sim é o caos!!! Nossas estradas matam mais que doenças, e isso tb é o caos!!! Nossas cidades entregues aos marginais e sem policiamento suficiente, tb é um caos!!! O SUS não reajustar as tabelas de procedimento desde 1994 é outro caos!!! Mas voltemos ao tema...

O que é ruim e o que é bom?
Quais os parâmetros a serem usados?
Quais os reais deveres do estado em relação aos temas constitucionais? 

Ao chamar a situação de "caos na saude de Lages", a reportagem generaliza o setor, esquecendo que existem outros porofissionais envolvidos e outros serviços sendo prestados aos cidadãos lageanos pela rede privada e pública.
Pela reportagem citada, poderíamos dizer que há uma crise no atendimento médico nos hospitais da cidade, mas não há essa mesma crise no atendimento médico dos PSF (Programa de Saúde da Família), nos laboratórios de análises clínicas, no Pronto Socorro, nos consultórios de especialidades do SUS localizado no prédio da secretaria municipal de saúde, etc.
Não há crise tb em outros setores profissionais, e que tme remuneração muito inferior a dos médicos, tais como enfermeiros, fisioterapeutas, etc.

Podemos então dizer que a crise é em relação aos valores pagos aos profissionais médicos que estão insatisfeitos com os valores praticados no momento, o que é um direito deles como classe. E a classe CANSOU! São unidos, agem em grupo e de forma organizadada, e por isso conseguem o que querem, ao contrário do sonolento mercado da saúde, que se sujeita aos valores oferecidos e não se valoriza. Não querem mais atender em condições "precárias" como dito na reportagem.
 A regra do mercado é simples. Vivemos em um país capitalista. Não está satisfeito? Saia. É assim que quase tudo funciona no Brasil, e é o que está sendo provocado pelo Ministério da Saúde ao DESPREZAR o montante de profissionais que COMPLEMENTAM o Sistema Único de Saúde! Despreza pq fica 17 anos sem reajustar tabelas de procedimento. Um exemplo é a famosa cirurgia de retirada do apêndice, para a qual o SUS paga R$ 200,46 e o propular Hemograma, para o qual o SUS paga R$ 4,16. Lembrar que esses valores são OS MESMOS desde 1994 quando entrou em vigor o Plano Real.
Mas afinal, não teria havido apenas um problema na comunicação no caso citado, ou seja, o paciente que deria ter ido para o hospital A foi encaminhado ao B e depois levado ao A onde foi atendido. 


Não seria o ponto final desse assunto em si? Até poderia ser, mas foi o estopim para o início de um debate importantíssimo em nosso país: a viabilidade e autosustentabilidade do SUS.
Pagamos impostos e não temos os serviços públicos... mas os mais pobres não pagam impostos. Antigamente se pagava o INPS e se tinha acesso ao serviço de saúde com um cartão, caso contrário era atendido como indigente. A criação do SUS veio pra acabar com o problema da saúde pública... mas ainda está engatinhando e precisa da rede privada para complementar o atendimento!
Então mais perguntas são lançadas:
Qual o papel dos prestadores de serviço ao SUS?
Qual o papel da rede privada de atendimento, incluindo os filatrópicos?
Quais os REAIS direitos da população e quais as REAIS atribuições da rede privada?
Qual o papel da rede pública de atendimento?
Quem sai ganhando (ou perdendo) caso a rede privada entre em colapso?
Essas perguntas só podem ser respondidas por especialistas no assunto, os juristas, pois são baseadas em LEIS!

Talvez nossa pergunta final devesse ser: As leis estão sendo cumpridas pelas partes afins? 

O debate foi lançado pela reportagem da RBS! Não existe nada em que haja apenas um culpado, e esse caso não é diferente. Não há culpa no Hospital Tereza Ramos e nem tampouco no Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, mas isso não transforma problema em resolução. Existe BOA VONTADE das instituições e tb da Secretaria Municipal de Saúde. Ao meu ver, há culpa no desentendimento e na comunicação, e PRINCIPALMENTE na falta do DINHEIRO! Sem dinheiro, não há como fazer milagres mesmo sendo um Hospital de Irmãs da Divina Providência! Sem dinheiro não há como o Hospital público atender, já que seu atendimento deve ser 100% para pacientes do SUS! Sem REAJUSTE de tabelas, o SUS deixará de ser suportado pela rede privada e aí sim, o caos virá! Onde esses doentes serão atendidos? Onde realizarão seus exames? Onde farão suas cirurgias?

O SUS, que é um projeto belíssimo, precisa URGENTEMENTE ser atualizado e, radicalmente, FISCALIZADO em níveis cada vez mais rígidos e esferas diversas, pois deveria ser CRIME INAFIANÇÁVEL desviar verba de saúde! 
Temos que ir ao  debate que sempre leva ao entendimento e à zona de intersecção de interesses e filosofias. 

Cabe a nós dar continuidade ou não, e esse debate e sempre lembrando que quem cala, consente!

Caio Salvino

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