segunda-feira, 4 de abril de 2011

A superbactéria: mitos e verdades

Após ver e ouvir tantas baboseiras a respeito do que a mídia vem chamando de "superbactéria", me vi obrigado a me posicionar novamente, como Microbiologista Clínico, Professor e profissional formador de opinião que sou.

Em primeiro lugar, quero esclarecer à sociedade que o fenômeno da resistência bacteriana não é algo novo, mas que existe desde a descoberta da penicilina, sua produção em larga escala e seu uso maciço durante, principalmente, a II Guerra Mundial, o que ocorreu mais tarde com outro importante grupo de antibióticos, as Cefalosporinas, que na verdade pertencem ao mesmo grupo das Penicilinas, os "beta-lactâmicos", por possuírem em sua conformação molecular, a estrutura chamada de "anel beta-lactâmico". A esse grupo pertencem tb os Monobactams (Aztreonam) e os Carbapenêmicos (Imipenem, Meropenem, Ertapenem e Doripenem).

Mas afinal, o que aconteceu com as bactérias que respondiam tão bem aos tratamentos com antibióticos até poucos anos atrás?
Elas "entenderam" os mecanismos de ação dos fármacos e passaram a combater os mesmos através de diversas formas, tais como produção de proteínas que destroem os antibióticos, modificação na estrutura celular e outros. No caso das "superbactérias", o uso maciço de cefalorporinas fez com que as bactérias passassem a produzir uma proteína (enzima) chamada cientificamente de "ESBL", que do inglês quer dizer "Beta-Lactamase de espectro estendido", uma verdadeira sopa de letrinhas a quem não trabalha nesse ramo como nós microbiologistas, os médicos e os farmacêuticos.

Bem, após as bactérias produzirem essas proteínas (ESBL), passou-se a usar maciçamente os carbapenêmicos, que até então eram o que havia de mais forte no sentido de combater bactérias resistentes.
Mas, com o passar do tempo, as bactérias chamadas Klebsiella pneumoniae criaram uma outra proteína, dessa vez uma capaz de destruir os carbapenêmicos, chamada inicialmente de Carbapenemase da Klebsiella pneumoniae, ou simplesmente de "KPC" (do inglês Klebsiella pneumoniae carbapenemase).

Estas bactérias, que antes respondiam ao tratamento com os antibióticos do grupo dos Carbapenêmicos, passou a ser RESISTENTE. Não contente com isso, passou a outras bactérias o gene desta proteína (carbapenemase), principalmente para a Escherichia coli

Estas bactérias "PRODUTORAS DE KPC" passaram a ser chamadas erroneamente pela mídia de "bactéria KPC" ou "superbactéria".

Até hj, as bactérias produtoras de KPC causaram somente infecções hospitalares em pacientes graves, tais como acidentados, neurológicos, etc. Não há casos de infecções fora dos ambientes hospitalares. Isso é um mito.
Outro mito é que qualquer pessoa pode "morrer de KPC". Ninguém "morre de KPC", já que KPC é apenas a proteína produzida pela bactéria. A pessoa precisa ter contato com a bactéria, estar com seu sistema imunológico comprometido e em estado grave para estar em risco.

O que precisa ser feito?
1. Lembrar que hospital não é shopping center e parar de querer passear nesses ambientes.
2. Lembrar que hospital é ambiente contaminado
3. Lembrar de não ficar pegando e tocando em pacientes internados quando for visitar algum
4. Se o paciente estiver em UTI, OBEDECER Á RISCA as regras locais de controle de infecção
5. Profissionais de saúde devem respeitar o trabalho das comissões de controle de infecção hospitalar (CCIHs)
6. Qualquer sinal de febre ou dor de cabeça, procure um serviço médico
7. Parar com a prática da auto-medicação
8. Nunca tomar antibiótico sem necessidade
9. Nunca interromper um tratamento antes do estabelecido pelo médico, mesmo que os sintomas tenham cessado
É isso... qualquer dúvida entem em contato conosco através do mail labsaldanha@labsaldanha.com.br ou do fone 3222-2925.
 

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